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Inteligência Psicológica

Comportamento Humano em Contextos Sociais como Objeto de Estudo da Análise do Comportamento

by admin outubro 30, 2018novembro 13, 2018
inteligencia-psicologica

O presente artigo visa a discutir a perspectiva da análise do comportamento para o estudo da cultura. Apresenta-se, inicialmente, o histórico de estudos que tiveram como objeto de estudo o comportamento humano em contextos sociais. Tais estudos foram fundamentais para a compreensão do comportamento social e verbal, demonstrando o potencial explanatório e tecnológico da análise do comportamento.

No entanto, os esforços iniciais de investigação sobre comportamento social e sobre o ambiente social (ou a cultura) tomaram a cultura como o contexto no qual comportamento individual ocorre e como variável independente que participa de maneira um tanto vaga do controle do comportamento operante.

Apenas tardiamente, discutiu-se na análise do comportamento a possibilidade de se tomar a cultura como foco central de análise, operando uma inversão em relação ao enfoque que tradicionalmente se assume no estudo do comportamento: a cultura passa a ser assumida como o terceiro nível de determinação do comportamento, passa a ser variável dependente.

Quando a cultura, ou o ambiente social, passa a ser tomada como fenômeno que precisa ser compreendido para que se possa, de fato, incluí-lo – posteriormente – como determinante do comportamento, surgem novas possibilidades conceituais e de investigação empírica. O artigo termina apontando possibilidades de pesquisas que consideram a cultura como objeto de estudo legítimo da análise do comportamento.

Dada a ênfase em uma posição analítica e experimental, considerada vital para o desenvolvimento de um referencial teórico sistemático e coerente (Skinner, 1938, 1953), parte relevante deste conhecimento baseou-se em trabalhos experimentais conduzidos em laboratório, com espécies não humanas.

Tal característica não pode ser confundida com um suposto interesse especial ou exclusivo pelo comportamento de tais espécies, uma vez que na própria constituição da análise do comportamento destacou-se o compromisso com a construção de uma ciência ou um corpo teórico científico explicativo do comportamento humano (Andery, 1990, 1993b; Malagodi, 1986; Richelle, 1981; Skinner, 1945, 1947, 1981).

Ao contrário do que parece, a postura analítica, a defesa do método experimental e a prática de pesquisa fortemente assentada em trabalhos experimentais com sujeitos não humanos levaram ao desenvolvimento de um corpo conceitual teórico com forte poder explanatório sobre o comportamento humano (Skinner, 1974, 1978, 1987a, 1989) e promoveram o desenvolvimento de tecnologias de intervenção sobre o comportamento humano em diversos contextos (ver especialmente Baer, Wolf & Risley, 1968, 1987; Branch & Malagodi, 1980; Guerin, 1992a; Lamal, 1991; Michael, 1980; Pierce & Epling, 1980).

Duas implicações importantes dessa história merecem destaque. A primeira delas foi a frequente crítica que afirmou a análise do comportamento como teoria e como prática reducionista e simplista (Richelle, 1981; Skinner, 1974).

Não é do escopo deste trabalho a discussão desta crítica que tem sido, por sua vez, extensa e efetivamente comentada e rebatida (Blackman, 1991; Glenn, 1991; Guerin, 1992a; Lamal, 1991; Malagodi, 1986; Malagodi & Jackson, 1989; Morris, Smith & Altus, 2005; Morris, Todd, Midgley, Schneider & Johnson, 1990; Pierce, 1991; Sério, 1997).

A segunda implicação que decorreu da maneira como a análise do comportamento se constituiu foi a enorme predominância do estudo do comportamento que não é mediado socialmente e um relativo atraso no estudo de comportamentos mediados, de suas complexidades e seus efeitos e de seu papel na produção da cultura e, neste sentido, do próprio homem (Andery, 1990, 1993a, 1993b, 1997a; Michael, 1984; Richelle, 1981).

No entanto, nenhuma dessas implicações derivou diretamente do trabalho de Skinner (1945, 1947, 1948) ou de seus contemporâneos (Keller & Schoenfeld, 1950), que desde os anos 1940 reconheceram explicitamente o papel central do comportamento social e do comportamento verbal na descrição e na explicação do comportamento humano.

Mais ainda, a partir dos anos 1950, de fato, Skinner tomou o comportamento social e o comportamento verbal como foco central de seu interesse, continuamente escrevendo sobre o tema e seguidamente argumentando que a compreensão de suas particularidades seria indispensável para a compreensão do homem e do comportamento humano (Skinner, 1953, 1957, 1974, 1978, 1987a).

Também não seria correto afirmar que a prática dos analistas do comportamento – em contextos aplicados e na pesquisa básica – seria diretamente responsável pela equivocada avaliação que aponta a análise do comportamento como descomprometida com contextos sociais complexos, ou incapaz de apresentar soluções para problemas humanos complexos.

Desde (pelo menos) os anos 1960, analistas do comportamento discutiram conceitual e metodologicamente as possibilidades da análise do comportamento como sistema explicativo que embasaria pesquisa e intervenção relacionadas a questões humanas e sociais (Burguess & Bushell, 1969; Cohen & Filipczak, 1971; Holland, 1978; Kunkel, 1970; Ulrich, Stachnik & Mabry, 1966).

Também, mais uma vez especialmente desde os anos 1960, publicaram-se inúmeros relatos de intervenção na perspectiva da análise do comportamento nos quais se destacam o esforço prático de solução de problemas aplicados que envolvem questões sociais amplas e complexas (e.g., Agras, Jacob & Lebedeck, 1980; Burgess, Clark & Hendee, 1971; Chapman & Risley, 1974; Clark, Burgess & Hendee, 1972; Cohen & Filipczak, 1971; Everett, Hayward & Meyers, 1974; Geller, Farris & Post, 1973; Greene, Rouse, Green & Clay, 1984; Kohlenberg & Phillips, 1973; McSweeny, 1978; Powers, Osborne & Anderson, 1973; Schnelle & Lee, 1974; Schnelle, Kirchner, McNees & Lawler, 1975; Seekins et al., 1988; Weisberg & Waldrop, 1972).

Todos esses trabalhos reflexivos, metodológicos e aplicados adiantaram interpretações e análises que contribuíram para a compreensão do comportamento social e verbal e, em certa medida, demonstraram o potencial explanatório e tecnológico da análise do comportamento (Otero, 2002).

Ademais, a partir dos anos 1970 e 1980, houve um esforço sistemático de cientistas analistas do comportamento com a construção de um corpo de conhecimento que toma como seu objeto central o comportamento humano caracterizado como comportamento social, mantido por contingências entrelaçadas.

Neste contexto, foram publicados inúmeros trabalhos cujo foco de interesse são fenômenos sociais humanos complexos e que reconhecem que tal foco envolve necessariamente buscar soluções para dificuldades conceituais e metodológicas enfrentadas pela análise do comportamento neste âmbito (ver, por exemplo, Dinsmoor, 1992; Glenn, 1985, 1986, 1988, 1991; Glenn & Malagodi, 1991; Guerin, 1992a, 1992b; Kunkel, 1983, 1985, 1986; Lamal, 1991, 1997; Lee, 1999; Lloyd, 1985; Malagodi; 1986; Malagodi & Jackson, 1989; Mattaini, 2004; Mattaini & Thyer, 2002).

No Brasil, ocorreu movimento semelhante, na direção de um crescente número de trabalhos conceituais e empíricos orientados pela análise do comportamento com foco em questões sociais e na cultura (Abreu, 1990; Alves, 2006; Amorim, 2010; Andery, 1990, 1993a, 1993b, 1997a, 1997b, 2001a; Andery, Micheletto & Sério, 2005; Andery & Sério, 1997a, 1997b, 1997c; Brocal, 2010; Bullerjhann, 2009; Caldas, 2009; Costa, 2001; Dittrich & Abib, 2004; Echague, 2006; Faleiros, 2002; Gadelha, 2010; Holpert, 2004; Kurokawa, 2009; Leite, 2009; Lima, 2002; Macedo, 2004; Martone, 2003; Martone & Todorov, 2005; Otero, 2002; Pereira, 2008; Sampaio, 2008; Sampaio & Andery, 2010; Tadaiesky, 2010; Todorov, 1987, 2005, 2006; Todorov & Moreira, 2004; Tourinho, 2009; Vichi, 2004; Vichi, Andery & Glenn, 2009; Vieira, 2010).

Talvez o crescimento de publicações sobre questões sociais e comportamento humano neste período se explique pela própria produção de Skinner nos anos 1970 e 1980. Publicações tais como os livros Beyond Freedom and Dignity (1971) e About Behaviorism (1974) e o artigo “Selection by Consequences” (1981) possivelmente tiveram impacto importante sobre os analistas do comportamento: reafirmaram a necessidade de se tomar a cultura e as relações e fenômenos sociais como legítimo problema de estudo na análise do comportamento e ofereceram explicitamente um caminho interpretativo para as difíceis questões do modelo de causalidade e da natureza dos fenômenos sociais humanos.

Desde então, cresceram sistematicamente publicações em análise do comportamento sobre contingências entrelaçadas e as relações entre comportamento individual e sociedade – o que se expressa, inclusive, pela publicação de novos periódicos como, por exemplo, Behavior and Social Issues1, patrocinado por um grupo que se intitula Behaviorists for Social Responsibility.

Também há que se destacar que no âmbito específico da análise experimental do comportamento desenvolveu-se um novo enfoque sobre comportamento social e contingências entrelaças já a partir dos anos 1960, quando se identificam pelo menos duas linhas de pesquisa sobre comportamento social, mais especificamente sobre cooperação.

Dois grupos de pesquisa publicaram, principalmente nas décadas de 1970 e de 1980, uma série de trabalhos experimentais com participantes humanos nos quais se preocuparam em desenvolver uma definição do que seria cooperação e estudar as variáveis que controlariam relações sociais de cooperação. (São relacionados como um grupo os trabalhos de Hake, Donaldson & Hyten, 1983; Hake, Olvera & Bell, 1975; Hake & Schmid, 1981; Hake & Vukelick, 1972, 1973; Hake, Vukelich & Kaplan, 1973; Hake, Vukelich & Olvera, 1975; Schmid & Hake, 1983. Outro conjunto de trabalhos sobre o tema inclui os artigos de Schmitt, 1976, 1984, 1987; Schmitt & Marwell, 1968, 1971a, 1971b).

No entanto, os esforços de investigação sobre comportamento social e sobre o ambiente social (ou a cultura) tiveram como sua principal característica o enfoque sobre o comportamento individual e tenderam a tomar a cultura apenas como variável ou conjunto de variáveis que participa da constituição do comportamento.

Ou seja, os focos de estudo, interpretação e intervenção em todos os trabalhos mencionados até aqui mantiveram-se no comportamento e no indivíduo: a cultura foi tomada como o contexto no qual comportamento individual ocorre e, no melhor dos casos, como variável independente que participa de maneira um tanto vaga do controle do comportamento operante.

Essas características de maneira alguma desmerecem os trabalhos referidos até o momento. Pelo contrário, indicam reflexão e tentativa de produção de conhecimento sistemáticas sobre as possibilidades abertas pelo sistema conceitual da análise do comportamento e pelo behaviorismo radical para a interpretação do comportamento humano no contexto social e cultural.

São trabalhos que produziram resultados promissores, os quais sugerem que o referencial teórico da análise do comportamento possibilita a intervenção em contextos complexos e, assim, contribuíram de maneira importante para ampliar o escopo de estudo e de intervenção da análise do comportamento (Biglan, 1995; Ellis, 1991; Geller, Winett & Everett, 1982; Glenn & Malott, 2004; Guerin, 1994b, 2001, 2003; Guerin & Miyazaki, 2006; Ishaq, 1991; Lamal, 1991, 1997; Krull & Pierce, 1997; Kunkel, 1983, 1985, 1986, 1991; Kunkel & Lamal, 1991; Laitinen & Rakos, 1997; Malott, 1988; Mallot & Glenn, 2006; Mattaini, 2004; Nevin, 1991; Pierce, 1991; Rakos, 1991, 1992, 1993; Ulman, 2006).

Cultura como objeto de estudo do analista do comportamento.

Mas, quando o analista do comportamento toma a cultura ou os chamados fenômenos sociais como foco central de suas análises, opera-se uma inversão em relação ao enfoque que tradicionalmente se assume no estudo do comportamento: a cultura, antes tomada como variável independente, como determinante ambiental do comportamento, passa a ser assumida como o terceiro nível de determinação do comportamento, passa a ser variável dependente.

A cultura, ou o ambiente social , passa a ser tomada como fenômeno que precisa ser compreendido para que se possa, de fato, incluí-lo – posteriormente – como determinante do comportamento. O comportamento humano, por sua vez, passa a ser tomado como fenômeno que só poderá ser descrito em toda sua complexa interação com o ambiente quando puder ser descrito como determinado (e determinante, é claro) pelo ambiente social ou cultura (Skinner, 1981, 1987a).

Definida por Skinner (1953) como o conjunto das contingências sociais de um grupo, a cultura é tomada como parte constitutiva do comportamento dos seres humanos, uma vez que todo comportamento humano é visto como produto também de uma história cultural2.

Destaca-se aqui que cultura, definida como interações comportamentais entre indivíduos (contingências sociais), torna-se, ela mesma, entrelaçamento de contingências de reforçamento (de comportamentos) e seus produtos, portanto, nosso legítimo objeto de estudo.

Uma cultura define-se, portanto, como uma entidade abstrata que tem temporalidade indefinida, mas que certamente envolve práticas comportamentais e produtos destas práticas – que são fenômenos comportamentais e ambientais – que se reproduzem entre indivíduos e gerações de indivíduos. Uma cultura é constituída de miríades de práticas culturais, definidas como padrões de comportamento aprendido que se reproduzem entre indivíduos e gerações de indivíduos (ver a este respeito Glenn, 2001).

Argumenta-se na análise do comportamento que comportamento é, por definição, um fenômeno individual, que ocorre no indivíduo. Neste sentido, poder-se-ia defender que não é legítimo o estudo de fenômenos culturais ou de práticas culturais no âmbito da análise do comportamento, uma vez que o estudo da cultura, por definição, toma como seu objeto um fenômeno que envolve comportamentos de múltiplos indivíduos, mas não se limita aos comportamentos tomados individualmente.

Contrariamente a tal posição, assume-se aqui que a cultura e as práticas culturais que a compõem são fenômenos comportamentais no sentido de que comportamentos individuais são unidades a partir das quais se constituem tais práticas; mas, no caso das práticas culturais, as unidades comportamentais – elas mesmas entendidas como relação indivíduo/ambiente – constituem-se em novas unidades.

Assim, a cultura ou as práticas culturais são definidas como um fenômeno supracomportamental que precisamos compreender para compreender o próprio comportamento humano. Culturas, por sua vez, só podem ser devidamente descritas como fenômeno tomando em conta o fato de que se constituem elas mesmas de comportamento operante.

Esse argumento é semelhante àquele que Skinner implícita ou explicitamente defendeu, especialmente a partir do artigo “Selection by Consequences”, quando estabeleceu definitivamente o modelo causal de seleção por consequências como modo de causação a ser adotado pela análise do comportamento.

Com este movimento, a cultura passa a ser tomada não somente como uma das variáveis determinantes do comportamento individual, mas também como objeto de investigação legítimo de uma ciência analítico-comportamental.

O mesmo argumento também foi defendido por Glenn (1999, 2001, 2003, 2004), que ressaltou a necessidade de discussão das unidades de análise de seleção cultural e, neste contexto, propôs o conceito de metacontingências. Sua tentativa foi de formular uma estrutura conceitual unificada para a análise do comportamento social, propiciando também possibilidades para o planejamento de práticas culturais. Entretanto, tal posição envolveu um conjunto de problemas e de implicações.

O primeiro problema enfrentado pelo analista do comportamento no estudo da cultura e das práticas culturais foi o de reconhecer que há dados, teorias, explicações e conhecimentos sobre o fenômeno cultural, produzidos externamente à análise do comportamento, que não podem ser simplesmente recusados pelo analista do comportamento.

Há que buscar na antropologia, na sociologia, na história e em outras ciências sociais e biológicas aqueles sistemas e aqueles conjuntos de dados que auxiliam o analista do comportamento a contatar e interrpetar os fenômenos sociais ou culturais (Glenn, 2001; Guerin, 1992b; Kunkel, 1983; Malagodi & Jackson, 1989).

Tal tarefa tem sido enfrentada por alguns analistas do comportamento e há alguma literatura acumulada que sugere a possibilidade de tomarmos partido de conhecimentos já produzidos (Andery & Sério, 2003, 2006; Blackman, 1991; Glenn, 1985, 1988; Guerin, 1992a; Hull, Langman & Glenn, 2001; Lamal, 1999; Lloyd, 1985; Parrott & Hake, 1983; Vargas, 1985; Vyse, 2001). Antropólogos como, por exemplo, Harris (1974, 1979, 1980, 1981, 1989), sociólogos como Gergen, Mead ou Elias (1987, 1939/1996), bem como alguns biólogos (Diamond, 2001, 2005; Richerson & Boyd, 2005) vêm sendo lidos e discutidos por analistas do comportamento.

Ademais, as tentativas de abordar a cultura como objeto de estudo legítimo da análise do comportamento originaram sugestões de algumas aproximações empíricas e conceituais entre a análise do comportamento e estes sistemas teóricos e já há alguns poucos estudos empíricos conduzidos por inspiração de alguns destes mesmos sistemas (Baum, Richerson, Efferson & Paciotti, 2004; Vichi, 2004; Vichi, Andery & Glenn, 2009).

Certamente, a discussão de novas aproximações entre análise do comportamento e sistemas teóricos de outras ciências sociais, humanas e biológicas já apontadas na literatura, bem como a reflexão e estudos sistemáticos com relação a sistemas até aqui não explorados deveriam fazer parte dos programas de pesquisas daqueles interessados no estudo da cultura como determinante do comportamento.

O segundo problema enfrentado pelo analista do comportamento que toma a cultura como seu objeto de estudo diz respeito à sua unidade de análise. De um lado, não há por que abandonar o comportamento operante e a contingência tríplice como unidade de descrição e de análise do objeto de estudo que é o comportamento.

Mas, por outro lado, no caso do comportamento humano e especialmente quando se investigam cultura e contingências sociais, não há como desprezar, desconsiderar, ou desconhecer que toda contingência relevante é parte de outras contingências. Ou seja, as contingências relevantes são contingências entrelaçadas e a unidade de análise com a qual se trabalha torna-se necessariamente mais complexa, envolvendo pelo menos duas ou mais contingências e suas interações.

A própria definição de cultura com que o analista do comportamento trabalha implica a tese de que o comportamento humano sempre envolve contingências sociais (Skinner, 1953, 1969a, 1969b); portanto, contingências nas quais outros indivíduos são o ambiente comportamentalmente relevante.

Tal definição origina problemas conceituais: (a) qual é, afinal, nossa unidade de análise enquanto unidade de trabalho e enquanto “menor parte na qual fragmentar” o fenômeno de nosso interesse?; (b) qual é a unidade de análise enquanto conceito unitário que descreve tal fenômeno, com a qual se deve trabalhar no tratamento da cultura?

A resposta a essas questões circunscreveu o trabalho que se fez e dela, em parte, depende o escopo do trabalho a ser feito e do conhecimento a ser produzido (Glenn, 1988, 1991, 2003, 2004; Kunkel, 1970; Mattaini, 1996, 2004; Mattaini & Thyer, 2002).

A Noção de Metacontingências e o Estudo da Cultura na Análise do Comportamento

Entre aqueles que investigam fenômenos sociais ou a cultura na análise do comportamento, há hoje algumas diferenças importantes em relação a esta questão da unidade de análise.

Enquanto autores como Mattaini (1996, 2004), Biglan (1995), Guerin (1992a, 1992b, 1994b) ou Pierce (1991) propõem soluções para a questão da unidade de análise que não envolvem novas proposições conceituais, Glenn se destacou por uma produção sistemática na qual aborda a questão de outra maneira.

Em 20 anos de publicações, Glenn (1985, 1986, 1988, 1991, 2001, 2003, 2004) discutiu a necessidade de se incluir na análise do comportamento a questão da cultura, das práticas culturais e de sua seleção e, ao fazê-lo, propôs uma distinção entre contingências entrelaçadas, macrocontingências e metacontingências.

Tal proposição permite que se identifiquem nas práticas culturais diferenças que não se resumem aos seus conteúdos, mas que refletem processos distintos, no sentido de que as unidades mínimas que descrevem práticas culturais tornam-se mais complexas. A diferentes práticas culturais poderiam, então, corresponder diferentes unidades de variação e seleção (Andery, Micheletto & Sério, 2005; Glenn, 2003, 2004; Sampaio & Andery, 2010).

Essas distinções – ainda em elaboração – baseiam-se em supostos que são coerentes com a análise do comportamento (e que foram em certo sentido adiantados por Skinner, por exemplo, em 1981, 1987b, 1987c) e, simultaneamente, fortalecem concretamente a possibilidade de investigação de fenômenos até aqui tomados como irredutíveis ao paradigma da análise do comportamental, como é o caso de muitas práticas culturais complexas.

Assim, ainda que muitos autores tenham adiantado instigantes interpretações de práticas culturais na perspectiva da análise do comportamento, a proposição de Glenn avança a área porque obriga o debate sobre a descrição e o estudo da cultura e porque conduz à necessidade de desenvolvimento de práticas de pesquisa que contribuam para a elaboração conceitual.

O compromisso da análise do comportamento com a produção de dados via investigação sistemática e, preferencialmente, via investigação experimental torna metodologicamente necessário que se testem as proposições adiantadas por Glenn antes que possamos recusá-las ou aceitá-las incondicionalmente e para que possamos refiná-las.

O Momento Presente

Assim como a publicação de Verbal Behavior (Skinner,1957) causou impacto conceitual e metodológico sobre a pesquisa de analistas do comportamento sobre a linguagem, os quais precisaram enfrentar questões para as quais não tinham soluções prontas (Andery, 2001b; Andery & Sério 1987, 2001), assim também a necessidade de abordar a cultura como objeto de estudo (Skinner, 1981) vem causando impactos similares.

Como tratar de fenômenos tão complexos, que se estendem no tempo e entre indivíduos, que são “transmitidos” entre gerações (horizontal, vertical e obliquamente) e diante dos quais temos pouco ou nenhum controle? Como enfrentar os problemas de controle de variáveis (os quais precisam ser enfrentados se pretendemos ir além da simples pesquisa reflexiva ou interpretativa)?

Além dos estudos interpretativos de Skinner sobre a cultura (e.g., Guerin, 1994a, 2001, 2003; Lamal, 1991, 1997; Skinner, 1972a, 1972b, 1978, 1987b, 1987c, 1989) e da possibilidade explorada por ele em Walden II (Skinner, 1948), de realização de um “experimento de escrivaninha” (Andery, 1990), duas outras possibilidades têm sido aventadas (aqui, como em outras áreas que colocam desafios semelhantes).

A primeira delas envolve a realização de “experimentos naturais” (Biglan, 1995; Campbell, 1969; Guerin, 1994b; Kunkel, 1983, 1985, 1986, 1991; Laitnen & Rakos, 1997; Sampaio, 2008; Sampaio & Andery, 2010; Todorov, 1987, 2005, 2006), ou seja, a sistematização e a interpretação de dados empíricos coletados em pelo menos duas circunstâncias diferentes por razões alheias ao problema de pesquisa em foco, quando uma variável conhecida e considerada relevante só está presente em parte da coleta – foi manipulada. Tais experimentos são possíveis sempre que dados sobre práticas culturais são sistematicamente coletados e registrados e quando a experimentação também foi sistematicamente descrita.

Outra possibilidade é a de realizar “experimentos reais”, segundo a tradição da análise do comportamento. Tal possibilidade já foi explorada com algum sucesso em relação a questões que pareciam desafiar a experimentação, como alguns chamados fenômenos cognitivos (Epstein, 1981) e, muito recentemente, passou a ser testada por analistas do comportamento interessados na descrição de práticas culturais e da cultura (Baum, Richerson, Efferson & Paciotti, 2004; Vichi, 2004; Ward, Eastman & Ninness, 2009).

De modo semelhante, ainda que segundo perspectiva um pouco distinta, antropólogos vêm empregando as mesmas estratégias de pesquisa (ver, por exemplo, Boyd & Richerson, 2005).

 

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992
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3 comments

Tonya Gray julho 18, 2017 - 12:18 am

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